Seja no ambiente escolar ou corporativo, a avaliação deveria funcionar como um elemento de integração e motivação, relacionando desempenho com satisfação. 

Por Helô Bueno

No final de cada ano o termo “balanço” ganha destaque nas mídias e nas conversas em geral. Fazer um balanço é refletir sobre os acontecimentos de um determinado período e analisar os seus resultados. Para as empresas, em especial, é utilizado como ferramenta estratégica, de forma integrada ao planejamento anual. Sendo assim, podemos associar esta palavra com outra bastante comum, que é utilizada ao longo do ano todo, especialmente no ambiente corporativo e escolar, que é “avaliação”.

Avaliação no Ambiente Corporativo

Através de uma avaliação, o empreendedor pode diagnosticar e analisar o comportamento e o desempenho, individual ou de um grupo de colaboradores, e verificar se a postura deles condiz com a cultura da empresa. Tem favorecido a evolução da empresa, no entanto, considerar nesse processo o bem-estar e desenvolvimento dos seus colaboradores.

Curiosamente, tem-se observado com frequência cada vez maior, profissionais que trabalham em grandes empresas, dotados de elevada competência e que costumam “vestir a camisa”, sentindo-se desmotivados e receosos de serem demitidos, lançados fora do mercado devido a avaliações feitas de forma superficial ou incorreta, por diretores e supervisores pouco empáticos ou cheios de intenções particulares que destoam dos valores defendidos pela empresa que representam.

Há uma série de formas de se avaliar e as grandes corporações costumam aplicar aquelas que mais se adequam ao seu perfil. No entanto, até mesmo as empresas multinacionais instaladas no Brasil, experientes na prática da avaliação, enfrentam problemas internos difíceis de serem corrigidos: há núcleos em que a avaliação funciona feito um bom relógio e há outros que parecem atravancados por relações interpessoais tensas, gerando um desalinhamento que compromete o desempenho de toda a equipe, quando não interfere até mesmo em outros setores da empresa.


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O mesmo acontece na grande maioria das pequenas e médias empresas que ainda não realizam avaliações de modo estruturado e acabam patinando em problemas e conflitos internos que dificultam sua trajetória rumo aos seus objetivos futuros.  Mas se até mesmo as grandes corporações, que realizam avaliações periódicas, estão sujeitas a enfrentar problemas sérios de desempenho e de relacionamentos, sejam estes em níveis hierárquicos ou não, que diferença faz?

Trago uma reflexão para contribuir com o sucesso do processo de avaliação, apontando que: se escapam desta tarefa alguns detalhes fundamentais, a avaliação, em si, perde o seu sentido e, consequentemente, sua eficácia.

É importantíssimo que se ofereça ao colaborador constantes feedbacks, para que a tarefa de avaliar possibilite evolução. Sem saber o que precisa ser ajustado, o profissional nem tem como querer ajustar-se. Abrir um diálogo com cada membro da equipe (em especial das que tiverem apresentado problemas nos itens observados) oferecendo-lhe oportunidade de fala, evita que pontos importantes deixem de ser esclarecidos ou possam ser encobertos por situações aparentes ou interesses pessoais que destruam a harmonia dentro da equipe.

Investir em conversas interessadas e honestas em vez de broncas, humilhações e dispensas precipitadas tem mostrado resultados satisfatórios diante da identificação de problemas e tornado a avaliação um instrumento mais eficaz. Para que sejam funcionais, portanto, os avaliadores devem ser pessoas com uma boa dose de habilidade empática. Do contrário, dificilmente alinhará as necessidades dos empregados às dos empregadores, o que se torna um limitador às empresas que pretendem se atualizar e sobreviver num futuro bem mais próximo do que calculam.

Afinal, como enfatiza o consultor americano Gary Hamel, professor da London Business School: “Pela primeira vez, desde o despertar da era industrial, a única maneira de construir uma empresa que seja adequada para o futuro é construir uma que seja adequada aos seres humanos”.

 

Avaliação no Ambiente Escolar

De acordo com a LDB (Leis de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9394/96), a avaliação da aprendizagem deve ser diagnóstica (para saber o nível atual de desempenho do aluno), processual (para acompanhar o seu processo de desenvolvimento educacional) e formativa (para saber se conteúdos estão sendo atingidos). Avaliar vem a ser, portanto, um processo pedagógico contínuo, que ocorre dia após dia, buscando corrigir erros e construir novos conhecimentos.

Na prática, porém, avaliar continua sendo uma ação vista pelos professores como uma série de provas a serem aplicadas aos estudantes, muitas vezes em caráter de comparação ou como tentativa de contenção de alguns comportamentos indesejados, considerados “indisciplina”. Ou seja, grande parte dos educadores ainda não compreende a importância da avaliação com profundidade.

Apesar de cada instituição de ensino poder adotar critérios de avaliação próprios, a partir das orientações da LDB, pouco se avança nesse quesito e inúmeras são as dificuldades encontradas pelos gestores dentro da sua unidade escolar em alinhar a equipe pedagógica na utilização desta ferramenta de forma integradora e realmente satisfatória. Até mesmo porque as provas dos vestibulares continuam sendo a principal referência desses agentes da educação, vista como o modelo para o qual as escolas devem se adequar.


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E ainda está pra surgir uma avaliação mais estressante e injusta do que as provas de vestibular! No entanto é a forma que o Estado mantém de oferecer estudo universitário “aos melhores alunos”, uma vez que ele (e a sociedade brasileira) não parece querer oferecer formação específica a todos os interessados, vocacionados a alguma profissão.

Resultado disso, vemos tantas mentes criativas impossibilitadas de cursar uma universidade, ao passo em que há muitos alunos oriundos de escolas particulares se profissionalizando sem mostrarem real interesse ou vocação para a profissão em questão, movidos principalmente pela aquisição do diploma e do status que ela possa oferecer.

Porém, quando a escola define seguir uma linha de avaliação coletivamente, envolvendo toda a equipe pedagógica, esta passa a ser uma ferramenta útil e natural, tanto para os professores quanto para os alunos. Não precisa haver sofrimento a estes últimos se avaliação é vista como uma tarefa cotidiana comum, cumprindo sua real finalidade de corrigir as falhas e produzir conhecimento dentro do processo educacional.

 

Reavaliando a prática

Em ambos os ambientes, escolar ou corporativo, a avaliação deveria funcionar como um elemento de integração e motivação, relacionando desempenho com satisfação. Como vemos, no entanto, há um longo caminho que a sociedade tem que percorrer nessa trajetória de otimização da avaliação, aproveitando esta ferramenta para o avanço de todos os envolvidos. Cabe-nos endireitar a trilha, refletindo principalmente sobre a postura de quem avalia. A posição do avaliador acaba sendo naturalmente hierárquica, no sentido de que este observa o outro e utiliza sua gama de conhecimentos para julgar o que o observado sabe ou não.

O primeiro passo a ser dado pelo avaliador que pretende tornar eficazes os resultados da sua tarefa é desenvolver empatia necessária para querer compreender o processo de aprendizagem da pessoa que está sendo avaliada, e assim contribuir para o seu real desenvolvimento.

Quando o mestre se conecta com a história do aprendiz, este se sente motivado a melhorar o seu desempenho e aprender mais, à luz do conhecimento de quem o orienta em seu caminho. A força da hierarquia cede lugar a um respeito genuíno, muito mais poderoso e transformador do que o que alcançam os professores que “castigam”; estes parecem respeitados, mas no fundo trata-se apenas de medo disfarçado.

O mesmo acontece com os profissionais: o colaborador que se sente compreendido e motivado a melhorar o seu desempenho, conhece o sentimento de pertencimento à equipe e realiza suas tarefas com maior satisfação, pois o seu propósito de vida se mantém alinhado ao propósito da empresa.

Podemos concluir que o grande desafio, tanto das escolas quanto das empresas, é melhorar o olhar do avaliador, pois é quem pode realizar o papel de integrar os membros da equipe e reorganizar os pontos falhos em relação às suas funções, tornando a avaliação uma aliada na tarefa de promover o bem-estar geral, tanto no nível pessoal quanto no empresarial. É preciso que os avaliadores estejam abertos a reaprenderem como avaliar e aceitem treinamento especializado.

Partamos, pois, das sábias palavras reveladas por Paulo Freire: “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende, ensina ao aprender”, para seguirmos adiante e enfrentarmos esse desafio em todas as esferas da nossa sociedade.

Afinal, conforme afirma o pesquisador e consultor Alexandre Schneider, “o trabalho do futuro exigirá pessoas que tenham a capacidade de aprender sempre”. Que esta reflexão nos sirva de inspiração e direcionamento de ações neste início de década. E boas avaliações!