Com as novas tecnologias, o que nos impede de sanar nossas curiosidades e aprender um pouco mais a cada dia? Ser autodidata é isso: mergulhar no próprio processo de aprendizagem, é escolher ampliar os seus horizontes.
Dentre os principais temas de debate e investimento daqueles que governam as nações com vistas para a sustentabilidade, Educação costuma estar no centro, uma vez que eles compreendem que a mentalidade do seu povo no futuro depende das ações desenvolvidas naquele urgente tempo presente.
Devido a interesses particulares, no entanto, muitos governantes, em todas as partes do mundo, ignoram a sustentabilidade como fator importante, geralmente por prestarem-se a manter os padrões sociais que atendem às minorias economicamente favorecidas. Assim, a Educação perde seu teor e esvazia-se em estruturas que viciam as mentes estudantis da população e mais impedem seu desenvolvimento (intelectual, moral, emocional…) do que os possibilitam.
Como “escolas são pessoas”, à luz da fala do contemporâneo educador Prof. José Pacheco, venho provocar os professores diante do cenário limitador vivido no Brasil: Como estão os seus alunos durante a pandemia? Eles dispõem de recursos para acompanhar as atividades online que a escola disponibiliza? E sobre você… o que tem escolhido fazer para que o aprendizado aconteça? Que escolhas você tem feito em relação ao seu trabalho?
Escolher é decidir. É tomar uma iniciativa em favor de algo. Como nem todos se colocam na posição de pessoas livres, não enxergam que o ato de aprender é algo contínuo e não se limita ao período ou ambiente escolar. Quando a pessoa se vê como alguém que já sabe, dificilmente permite-se aprender o que quer que seja; ela permanece inacessível ao novo conhecimento. Infelizmente isso acontece com muitos professores.
Aprender o quê? Aprender como? Aprender com quem? A perguntas como estas, cada pessoa terá que encontrar suas próprias respostas. Pretendo aqui ater-me apenas a uma questão: “Aprender por quê?” Ou ainda, no inverso da reflexão: por que não aprender?
Aprender é uma ação orgástica para o cérebro, as sinapses são como foguetes coloridos de entusiasmo e alegria. O ato de aprender é uma conquista do indivíduo; o conhecimento adquirido, quando compartilhado, potencializa-se em favor da evolução e do entendimento, estendendo-se de modo imensurável e intangível. Por que motivos, então, a escola tornou-se um local tão desinteressante? O que se aprende, efetivamente, na escola? Ou ainda…aprende-se, efetivamente, na escola?
Se já está mais do que provado cientificamente que conhecimento não se transfere de uma pessoa para outra, mas se constrói na relação entre ambos e na exploração do objeto de estudo, fica evidente porque pouco se tem aprendido nas nossas escolas públicas: a maioria delas ainda pratica “instrucionismo”, ou seja, consideram o conteúdo como sendo imutável, “sua maior pérola” e lhe dão absoluto valor, em vez de considerar as pessoas e os seus processos.
Além do mais, nelas se estabelece autoritarismo como prática de relação nas ações dos professores e gestores; elas não dialogam com a realidade das gentes; fragmenta os assuntos a serem aprendidos e burocratiza o processo educativo. Imagino que esses fatores sejam já suficientes para desvincular o prazer em aprender do cotidiano da escola. Até porque uma informação só se transforma em aprendizado quando se conecta com outras, para que um conhecimento novo (sinapse) seja construído.
De volta à escolha… ao descobrir o prazer de aprender, a pessoa que alcança um pouco de liberdade passa a aproveitar todas as oportunidades para descobrir alguma coisa nova e fazer da pesquisa um hábito.
Em se tratando do aprendizado de línguas, como professora eu observo que somente atinge fluência aquele aprendiz que se permite traçar um caminho próprio no estudo da língua e que não se basta, ou acomoda, no conhecimento do professor. Aprende aquele que mergulha na aprendizagem da língua em estudo, levando-a consigo à sua vida cotidiana: ao ver um filme, ouvir uma canção, ler dizeres em uma camiseta… buscando encontrá-la nos espaços da vida onde ela se mostra ao aprendiz. É isso o autodidatismo. E só vale para o aprendizado de idiomas? Por que não estendê-lo aos demais objetos de estudo?
Muita gente reclama da falta do que fazer nesses tempos de quarentena pela pandemia. Não se deram conta das possibilidades que estamos tendo de aprender algo a todo o momento. Falo a partir de um lugar de privilégio, admito. Dispor de internet e de um notebook ou celular facilita grandemente essa prática; e não me refiro, de forma alguma, às aulas online, que apenas trouxeram para a tela seus arraigados problemas, chatices e falta de sentido. Quando os estudantes forem tratados como sujeitos dignos de aprendizagem (e não de “ensinagem”) e puderem aprender tudo o que lhes interessa, os resultados escolares serão mais bem-sucedidos.
Enfatizo que se aprende também com o outro. Aprende-se observando a vida, a natureza, as pessoas… Sair do espaço confortável do “já saber” e arriscar olhar para o que está encoberto pode ser um prazeroso desafio. Não há limites àquele que assume sua liberdade de aprender estando alheio ao ambiente escolar.
Para quem sonha com uma revolução que seja amorosa, está aí mais um ato revolucionário para se somar aos dispositivos já existentes: continuar aprendendo e por conta própria! Traçar o seu percurso enquanto aprendiz, livremente. Mestrados e doutorados informais já são uma realidade em nosso país. Grupos de estudos sobre todos os tipos de assunto, também.
O vídeo abaixo é o registro de um projeto de pesquisa que realizei durante a pandemia do coronavírus, motivada por este insight: “por que não?”
E você… já se perguntou hoje “o que gostaria de aprender”? Ao libertar-se das amarras do senso comum a gente arruma um jeito de descobrir algo novo todos os dias. Quarentena segue? Então… bons estudos!