A arte costuma ser erroneamente confundida no Brasil como entretenimento, ela ainda não é vista como trabalho para grande parte da população. Porém, os últimos anos foram especialmente desafiadores para artistas aqui no país.
Primeiramente, o Ministério da Cultura foi convertido em secretaria e vinculado ao Turismo, passando a sofrer seguidos cortes de verbas que anteriormente proporcionavam aos artistas, ainda que iniciantes, alguma dignidade. Rouanet, a principal Lei nacional de incentivo, foi atacada por fake news como sendo “para famosos, amigos do governo ou fonte de desvio de verbas”, o que levou muita gente a demonizá-la. Processos criativos foram sendo abafados por grande número de artistas devido ao medo de se expressarem livremente, pois perseguições políticas voltaram a acontecer, e com frequência.
Eu, particularmente, vi minha criatividade sendo limitada a fazeres mais contidos e cotidianos. Sequer poetizar parecia possível, nada nem ninguém se entendia ou parecia aberto a receber o que eu sentia ter a oferecer.
De uns meses pra cá, com a retomada do olhar para as artes e a cultura com atenção, respeito e consideração, volto também a sentir girando internamente a engrenagem que move o processo criativo, especialmente a poesia e a expressão com liberdade. Você passou por alguma experiência similar nesse período? Como foi pra você? Comente se quiser e sentir-se confortável, ainda que tenha sido oposta a essa que relato.
Deixo aqui registrados uns versos mesclados a imagens de acervo próprio, que surgiram depois de eu ter assistido ao documentário “Só dez por cento é mentira”, de Pedro Cezar*, sobre a vida de Manoel de Barros, o poeta das miudezas. Chamei de “Embarreados” esta série de versos.
* Só dez por cento é mentira – link para assistir no Youtube:
Embarreados: https://youtu.be/K5QdERnjYuo