Será que atenção e audição se relacionam? “Ouça” o relato de uma experiência que tive e comente o que pensa a respeito. Eu adoraria “ouvir” outras vozes.

Explorando o uso de fones ao celular, resolvi fazer uma surpresa para um amigo italiano que valoriza as “trocas de realidades” enquanto caminhava de manhãzinha acompanhada do fone celular, pela primeira vez na vida. O amigo estava terminando de fazer algo e ia me ligar em alguns minutos. Para que somente eu o ouvisse chamar, mantive os fones no ouvido, mas… por pouco tempo…

Menos de dois minutos se passaram e fui atingida por uma moto, no instante de bobeira em que desisti de atravessar a rua e voltar uns passos em direção à esquina. Estatelada no asfalto, com o rosto no chão, chegou a ser irônico ouvir do motoqueiro, preocupadíssimo, que “é um perigo andar com esses fones nos ouvidos”.

Hey, essa fala era minha! Eu sempre disse isso! Sim, eu sabia que era perigoso.  Por sorte não foi um acidente grave, deixou esfolados, hematomas e aquela tensão no corpo decorrente do  stress da situação, que vão me acompanhar por uns dias mais deste inverno – estação que parece potencializar as nossas dores.

Enquanto o susto passa, avalio a experiência e reflito sobre os acasos. Audição é poder. Uma estratégia de sobrevivência no trânsito. Assim como a atenção. Nativos digitais talvez funcionem de outro modo e consigam manter-se atentos ainda que não estejam ouvindo o “mundo lá fora”. Se o fato de eu ter sido atropelada resultou ou não do uso dos fones, não ouso afirmar. De qualquer forma, sigo compreendendo essa lição da vida e imagino que o rapaz da moto também esteja vivendo um processo semelhante, devido ao susto que teve.

Aliviadas as dores, já é possível sentir gratidão pela experiência e ouvir o pedido de cautela que me chega da consciência. Assim, não ficam traumas, apenas aprendizados. Lá no fundo do meu ser uma voz me desperta: “Você me ouve?”

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